Em um mundo cada vez mais focado em práticas agrícolas sustentáveis, a Earthworm Foundation lidera iniciativas globais para transformar as cadeias de fornecimento de cacau. Um dos projetos que exemplificam esse compromisso, envolvendo a preservação ambiental e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento social, é o Sementes da Mudança, realizado na Amazônia brasileira.
O público-alvo são agricultores de cacau, e o principal objetivo é promover negócios agrícolas ambiental, social e economicamente fortalecidos, orientados para aumentar a segurança alimentar, a diversificação das fontes de renda das famílias de agricultores e favorecer o empoderamento feminino.

A região Transamazônica, localizada no coração da Floresta Amazônica, apresenta oportunidades únicas e, também, desafios significativos para a agricultura sustentável. Com uma área de aproximadamente 219 milhões de km², equivalente a cinco vezes o tamanho da França, é rica em biodiversidade, mas enfrenta ameaças ambientais, como o desmatamento, a extração ilegal de madeira, entre outros.
A produção de cacau nessa área envolve, em sua maioria, pequenos agricultores familiares. São mais de 30 mil em todo estado do Pará. Eles vivem em comunidades rurais como as atendidas pelo projeto nos oito municípios paraenses — Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Placas, Uruará e Vitória do Xingu.
"Produzir cacau não é só produzir, você tem que gostar do que faz. Você tem que cuidar do viveiro com carinho, procurar uma boa semente. E, ao plantar, não é só enxergar o cacau como uma fonte de renda. O cacau está no sangue no povo da Transamazônica. Além de ganhar dinheiro, é algo mais”, explica Michel Silva da Costa, produtor de cacau e Diretor de Produção da COOP 147. E complementa: “O cacau está na vida da minha família, por isso, mais que plantar ‘rios’ de cacau, é uma questão de produzir com qualidade, seja na produtividade ou no beneficiamento."

A região é ideal para a promoção de Sistemas Agroflorestais (SAFs), em especial aqueles que incluem o cacau. Mas muitos produtores enfrentam dificuldades logísticas e carecem de apoio técnico, de estruturas legais e conformidade ambiental para a implementação desses sistemas. Por isso, são o foco do Sementes da Mudança.
Lançado em 2023 em parceria com a Cargill, o Sementes da Mudança visa beneficiar 207 famílias de pequenos produtores de cacau — englobando um total de 828 pessoas — por meio de uma combinação de intervenções ambientais, econômicas e sociais. Dessa forma, será possível fortalecer as capacidades organizacionais das cooperativas locais, com ênfase no aumento da participação e da liderança feminina nesses grupos.
O projeto integra práticas agrícolas modernas como gestão de terras e treinamento financeiro, juntamente com suporte técnico para uma produção sustentável de cacau, criando sistemas agrícolas diversificados e resilientes, capazes de se adaptar às pressões climáticas e às oscilações do mercado.
O Sementes da Mudança também tem como objetivo o empoderamento feminino por meio de oficinas de capacitação e treinamentos de liderança. Essa abordagem inclusiva de gênero contribui para transformar disparidades socioeconômicas enraizadas, ao mesmo tempo, em que promove fortalecimento das comunidades agrícolas de cacau.

"Venho aprendendo como podar o cacau do jeito certo e no tempo certo, como aplicar o adubo no tempo certo e, também, a questão da colheita... Colher quando o fruto está maduro, para tirar a polpa. Então aprendi tudo sobre o cacau e gostei! Desenvolveu mais nossa produção e até o modo de trabalhar de um jeito mais fácil." – Jânia Maria Simão, produtora de cacau
Um dos eixos estratégicos do Sementes da Mudança é o incentivo da adoção de Sistemas Agroflorestais (SAFs) que, além de aumentarem a produtividade do cacau, servem como processos essenciais para restaurar terras degradadas, conservar a biodiversidade e sequestrar carbono. Embora o projeto não financie diretamente a implementação de SAFs, promove essa prática por meio da assistência técnica aos produtores, os quais são orientados sobre os benefícios da integração do cacau com espécies nativas da floresta. Essa atuação está alinhada à estratégia da Earthworm Foundation no Brasil de fomentar práticas produtivas mais sustentáveis em áreas sensíveis da Amazônia.

Mais que aprimorar o cultivo do cacau, o projeto promove a diversificação de culturas, aumentando a segurança alimentar das comunidades locais e gerando novas fontes de renda. Essa diversificação ajuda a criar condições econômicas mais estáveis para os agricultores, enquanto torna suas práticas agrícolas mais resilientes a choques ambientais e de mercado. Vale destacar também que os SAFs são fundamentais na mitigação do desmatamento, uma preocupação urgente na Amazônia.
"Vários ciclos se passaram: madeira, gado, que era o sonho de muitas pessoas... Hoje, vejo que o cacau é esse sonho. Quem produz cacau está conseguindo ter uma qualidade de vida melhor, porque ele é fundamental nessa região. Em uma área pequena, hoje você consegue ter uma receita. Acho que o cacau é a principal fonte de renda na nossa região Transamazônica", reforça o produtor Michel.
Apesar da crescente demanda internacional por amêndoas de cacau e do reconhecimento de produtos premiados em feiras globais, os produtores da Transamazônica enfrentam desafios para atender às exigências do Regulamento da União Europeia sobre Desmatamento (EUDR). Essa nova legislação, que busca combater o desmatamento associado a produtos agrícolas importados pelo bloco, exigirá maior transparência e controle sobre a origem das amêndoas, uma vez que as empresas exportadoras precisarão garantir que as cadeias de fornecimento estão livres dessa prática.
O EUDR poderá levar a uma segmentação no mercado, na qual somente os produtores que conseguirem demonstrar conformidade com suas exigências terão acesso ao mercado europeu, enquanto outros poderão enfrentar restrições comerciais, correndo o risco de exclusão das cadeias de suprimento globais. Nesse contexto, os principais desafios para os produtores da Transamazônica estão relacionados a sistemas de rastreabilidade e à regularização fundiária.
"A grande maioria dos pequenos agricultores depende de sistemas manuais de registros, em alguns casos baseados em planilhas, mas sem integração digital eficiente para verificação da origem do cacau. Além disso, a informalidade no comércio, com inúmeros atravessadores que compram amêndoas de diferentes origens, sem a devida documentação, representa um risco significativo para a rastreabilidade", explica João Carlos Silva, Diretor da Earthworm Foundation Brasil.
Para ele, a digitalização dos registros de produção e comercialização é fundamental. Ou seja, as cooperativas deverão adotar ferramentas tecnológicas que permitam o rastreamento preciso da origem das amêndoas, "evitando riscos de mistura com lotes não conformes".
Em relação à regularização fundiária, o Diretor da Earthworm no Brasil lembra que diversos produtores não possuem documentos formais que comprovem o direito de uso da terra, dificultando a demonstração da conformidade com a regulamentação europeia. "Por isso, os agricultores da Transamazônica precisam de apoio técnico e recursos financeiros, para conseguirem os documentos necessários para comprovar o uso legal da terra e, assim, poderem se adequar aos modernos requerimentos", completa Silva.
Pela atuação da Earthworm Foundation no território, foi estabelecida uma parceria estratégica com o projeto Sustainable Agriculture for Forest Ecosystems (SAFE) implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH. E assim, poder compreender o cenário, desenvolver diretrizes, capacitar produtores e fortalecer associações e cooperativas locais.

Como parte dessa colaboração, a Earthworm está finalizando um estudo para avaliar os impactos do EUDR na cadeia produtiva de cacau dessa região. A análise apoiará ações do projeto SAFE para preparar os produtores de cacau para atender a essas novas exigências regulatórias, evitando possíveis barreiras de exportação e sanções econômicas.
"Se, de um lado, o EUDR é um desafio, ele também poderá facilitar a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis, como o uso dos SAFs. Assim, além de evitar a conversão de florestas, será possível contribuir para a melhoria da qualidade do solo, a conservação da biodiversidade, o sequestro de carbono e a resiliência climática. Estamos desenvolvendo diretrizes claras e ferramentas práticas para auxiliar os produtores a se adequarem a essa regulamentação, promovendo uma cadeia de fornecimento mais transparente", pondera Silva.
Para empresas e agricultores que buscam garantir uma produção de cacau realmente sustentável, existem algumas recomendações práticas que devem ser consideradas.
"O Currículo do Cacau é uma referência importante no Brasil para direcionar a melhoria contínua na produção mais sustentável, e a Earthworm Foundation vem engajando produtores para que alcancem critérios ainda mais exigentes", reflete Josinara Garcia, Gerente nos Projetos na Transamazônica.

O caminho para uma cadeia de fornecimento responsável passa por várias etapas que envolvem, além do manejo ambiental adequado, a promoção da justiça social e o fortalecimento das comunidades locais.
Confira as principais recomendações:
Implementar sistemas que combinem o cultivo de cacau com a preservação florestal ajuda a manter a biodiversidade, melhorar a qualidade do solo e aumentar a resiliência às mudanças climáticas. O uso de árvores nativas, por exemplo, pode oferecer sombra natural ao cacau e aumentar a produtividade a longo prazo.
Desenvolver mecanismos de rastreamento e monitoramento é essencial para garantir que o cacau produzido esteja em conformidade com padrões ambientais rigorosos. Isso ainda permite que as empresas e produtores demonstrem a origem sustentável de seus produtos aos consumidores e mercados internacionais.
O sucesso da produção depende da educação e capacitação dos agricultores. Empresas e organizações devem investir em treinamentos regulares que ensinem técnicas de manejo sustentável, incluindo manejo de solos, controle biológico de pragas e uso eficiente da água.
Estar atento às novas regulamentações, como o EUDR, e garantir que a cadeia produtiva esteja preparada para atender aos requisitos de conformidade ambiental são aspectos importantes. Isso inclui desenvolver sistemas que garantam a não associação da produção ao desmatamento ou à degradação ambiental.
Para além da sustentabilidade ambiental, é essencial promover a inclusão social e econômica dos pequenos produtores, garantindo que tenham acesso a crédito, mercados justos e redes de apoio, promovendo o empoderamento desses agricultores na cadeia de valor do cacau.

O uso de tecnologias inovadoras, como ferramentas de análise de solo, drones para monitoramento de áreas agrícolas e sistemas de irrigação inteligentes, pode aumentar a eficiência da produção, reduzir desperdícios e diminuir o impacto ambiental.
A Earthworm Foundation Brasil está na linha de frente dos esforços para transformar a cadeia do cacau na região Transamazônica. Por meio de iniciativas como o projeto Sementes da Mudança e do estudo sobre o EUDR, a organização busca proteger o meio ambiente, enquanto promove o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento das comunidades cacaueiras.
A combinação de práticas agroflorestais, inovação tecnológica e monitoramento ambiental cria um modelo de produção que pode servir de exemplo para outras regiões e culturas agrícolas.
Empresas que desejam ter uma produção de cacau sustentável precisam olhar além dos ganhos imediatos e se comprometer com a preservação ambiental e a justiça social. Ao seguirem as recomendações, terão condições de criar uma cadeia produtiva que respeite o meio ambiente, beneficie os agricultores e atenda às exigências regulatórias, tornando o cacau brasileiro uma referência global.
"Para empresas e produtores que conseguirem se adequar, o EUDR pode representar uma oportunidade de diferenciação e agregação de valor ao cacau brasileiro, especialmente para o segmento de cacau fino e orgânico, que já opera sob padrões mais rigorosos de sustentabilidade", conclui João Carlos Silva.