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Governos da Malásia e da Costa do Marfim se unem ao Brasil para promover a agricultura regenerativa e a agrossilvicultura
Governos da Malásia e da Costa do Marfim se unem ao Brasil para promover a agricultura regenerativa e a agrossilvicultura
News 10/11/2025

Governos da Malásia e da Costa do Marfim se unem ao Brasil para promover a agricultura regenerativa e a agrossilvicultura

Das paisagens de cacau da Costa do Marfim aos campos de palma da Malásia e aos mosaicos florestais do Brasil, países de toda a região tropical estão buscando maneiras de restaurar terras degradadas, aumentar a resiliência dos agricultores e desenvolver sistemas alimentares mais regenerativos.

Nos últimos meses, delegações da Costa do Marfim e da Malásia visitaram o Pará, no Brasil, para uma troca de conhecimentos coordenada pela Earthworm Foundation, com o objetivo de aprender em primeira mão como a agrossilvicultura pode ser uma ponte entre produtividade e restauração.

As visitas, realizadas entre julho e setembro de 2025, ocorreram em um momento crucial, às vésperas da COP30, em Belém, momento de crescente pressão sobre os governos para demonstrar como as promessas climáticas podem se traduzir em mudanças tangíveis nos territórios. Nesse contexto, os intercâmbios ofereceram um raro exemplo de colaboração direta entre nações tropicais, líderes, pesquisadores e agricultores, que se reuniram para compartilhar abordagens comprovadas para a construção de economias rurais mais resilientes.

Aprendendo com o laboratório vivo do Brasil

Em Tomé-Açu, uma região há muito reconhecida por seus sistemas agroflorestais pioneiros, as delegações observaram fazendas onde palma, cacau, árvores frutíferas e espécies florestais nativas, como açaí e andiroba, crescem lado a lado. Esses sistemas, desenvolvidos há mais de quatro décadas, por cooperativas como a CAMTA e agricultores locais de ascendência japonesa, imitam a estrutura e a função das florestas naturais.

O que os visitantes viram foi uma demonstração viva de como a biodiversidade e a produtividade podem se reforçar mutuamente. Os agricultores explicaram como o cultivo intercalar os ajuda a equilibrar a renda ao longo do ano, reduzir surtos de pragas e melhorar a fertilidade do solo, ao mesmo tempo em que restabelece o equilíbrio ecológico.

Durante a viagem, os delegados também se reuniram com pesquisadores da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), órgão brasileiro dedicado à pesquisa e extensão do cacau, onde décadas de testes aperfeiçoaram como os serviços técnicos podem orientar os agricultores no complexo processo de transição para sistemas diversificados. As discussões foram além da agronomia, abordando como os governos podem incorporar a agrossilvicultura nas políticas nacionais de uso da terra e agricultura.

A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, reuniu-se com a delegação da Costa do Marfim, reconhecendo a importância dessas parcerias. O intercâmbio mostrou que a agrossilvicultura é um caminho para a diplomacia climática e a biodiversidade.

Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, em reunião com a delegação da Costa do Marfim

Desafios comuns, contextos diferentes

Para a Costa do Marfim, maior produtora mundial de cacau, a visita ocorreu quando o país avança no plano de restaurar 5 milhões de hectares de florestas e terras degradadas até 2030. A produção de cacau tem sido afetada por uma combinação de pragas, incluindo o vírus do broto inchado, e quedas na produtividade relacionadas ao clima, o que aumenta a pressão sobre os meios de subsistência rurais.

“A agrossilvicultura é importante porque restaura os ciclos de vida: conectividade, sucessão e biodiversidade”, afirmou Eleanor Ngbesso, Gerente do Programa África da Earthworm Foundation. “A implementação desse modelo garante a revitalização e um novo paradigma agrícola focado na gestão eficaz dos recursos.”

O ministro da Água e Florestas da Costa do Marfim, Laurent Tchagba, liderou duas missões ao Brasil no início de 2025, incluindo reuniões de alto nível em Brasília com a Ministra Marina Silva. O objetivo: entender como as décadas de política agroflorestal e o envolvimento dos agricultores do Brasil poderiam servir de inspiração para a estratégia de restauração florestal da Costa do Marfim.

Enquanto isso, a Malásia enfrenta um desafio diferente, mas complementar. Com mais de 114.000 hectares de palmas replantadas, em 2024, o país está passando por um grande ciclo de replantio. O Conselho do Óleo de Palma da Malásia (MBPO) e o Conselho do Cacau da Malásia veem a agrossilvicultura como um meio de diversificar as fontes de renda, durante os anos que antecedem a colheita das novas palmeiras, reduzir a vulnerabilidade aos choques climáticos e aumentar a resiliência rural.

“Esta visita abriu os nossos olhos para como sistemas diversificados podem amortecer os impactos das transições para os agricultores e fortalecer a resiliência”, disse o Dr. Mohd Hefni bin Rusli, diretor da Divisão de Extensão e Certificação de Pequenos Produtores do MBPO. “Esperamos testar e adaptar na Malásia o que vimos no Brasil, em colaboração com outras commodities.”

O papel de conectar da minhoca

Com mais de uma década de trabalho em Tomé-Açu, a Earthworm Foundation ajudou agricultores, cooperativas e empresas a fortalecer modelos agroflorestais que combinam restauração ecológica com renda estável. Essas relações de longo prazo posicionaram a Earthworm para atuar como facilitadora das trocas, conectando autoridades governamentais com agricultores e pesquisadores, cuja experiência cotidiana reflete décadas de experimentação.

“Nosso papel é conectar os governos à inovação no campo, para que o conhecimento não fique apenas na teoria”, disse João Carlos Silva, Representante no Brasil da Earthworm Foundation. “As paisagens brasileiras nos ensinaram muito; nossa tarefa é ajudar a adaptar esses aprendizados em outros lugares.”

“A visita não se limitou aos sistemas agrícolas”, acrescentou Pooi San Wong, Líder do Programa de Campo da Earthworm Foundation na Malásia. “Na CEPLAC, vimos como as agências técnicas podem trabalhar em conjunto com associações de agricultores para ampliar a agrossilvicultura. Esse é exatamente o tipo de colaboração de que a Malásia precisa, à medida que planejamos nossos próximos passos.”

Em todas os locais das visitas, desde as fileiras sombreadas de cacau e palma até os laboratórios de pesquisa em Belém, o aprendizado mútuo foi prioridade – e não a transferência de conhecimento unilateral. Os delegados compararam como os incentivos, o treinamento dos agricultores e os sistemas de monitoramento poderiam ser adaptados aos contextos dos próprios países.

Construindo um novo tipo de colaboração

Essas trocas fazem parte de uma parceria crescente entre Brasil, Costa do Marfim e Malásia, impulsionada pelo reconhecimento comum de que as práticas regenerativas devem funcionar tanto do ponto de vista ecológico quanto do econômico. Ao conectar agricultores, cientistas e instituições públicas em diferentes continentes, a iniciativa demonstra como o conhecimento adquirido em uma paisagem tropical pode servir de referência para outras regiões que enfrentam pressões semelhantes.

Enquanto a Malásia e a Costa do Marfim definem próximos passos, ambos os países planejam testar modelos agroflorestais adaptados às culturas e ecossistemas específicos. A Earthworm Foundation continuará a apoiar esses esforços por meio da adaptação técnica, do engajamento dos agricultores e de oportunidades de aprendizado entre países.

A colaboração está em estreita sintonia com a agenda da COP30 de ações lideradas localmente e soluções climáticas cooperativas, provando que as mudanças mais transformadoras geralmente começam no campo, alimentadas pela curiosidade e confiança compartilhadas.

Contatos com a Imprensa
Rini Vella-Gangne, Global Engagement Lead. r.vella-gangne@earthworm.org
Isabella Galante, Communications Manager, LATAM/Brazil. i.galante@earthworm.org
Valery Njiaba, Communications Manager, Africa. v.njiaba@earthworm.org
Sheila Putri, Communications Manager, Asia/Malaysia. s.putri@earthworm.org

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